“Por esse motivo tinham se tornado supérfluas muitas coisas que na verdade não se podia vender, mas que também não se queria jogar fora. Todas elas migraram para o quarto de Gregor – mesmo a lata de cinzas e a lata de lixo da cozinha. Agora a faxineira, que estava sempre com muita pressa, simplesmente arremessava ao quarto de Gregor o que não era usado no momento; felizmente Gregor via, na maioria dos casos, o objeto em questão e a mão que o segurava. Talvez a faxineira tivesse a intenção de pegar as coisas de novo, conforme o tempo e a ocasião, ou então de atirar todas elas fora de uma só vez; mas o fato é que elas permaneciam no lugar onde tinham sido atiradas – isso quando Gregor não se locomovia no meio do entulho e as punha em movimento, a princípio forçado, porque não havia nenhum outro espaço para rastejar, mais tarde porém com satisfação crescente, embora depois dessas caminhadas, triste e morto de cansaço, não se movesse novamente durante horas”.
A metamorfose. Franz Kafka (1883-1924) – p. 67.