Nos arredores da minha residência, há uma intensa concentração e fluxo de indivíduos em situação de rua e que se encontram na condição de usuários de crack. Moro aqui há três décadas, portanto, não é uma paisagem nova.
Uma das estratégias que eles adotam para obter dinheiro envolve a coleta de aparelhos eletrônicos descartados que contêm fios de cobre em sua composição.
Devido ao revestimento plástico resistente desses circuitos, eles realizam pequenas queimadas, reunindo os equipamentos que conseguiram recolher, para amolecer os componentes no calor das chamas.
Após a queima, batem os pedaços no chão, com as mãos ou alguma ferramenta improvisada, para retirar pequenas quantidades de cobre, que são vendidas. Dessa forma, conseguem comprar porções do entorpecente.
Queimados de sol, rasgados, sujos e fétidos, eles acumulam o cobre durante a queimada, enquanto o plástico derrete, e depois garimpam as “pedras” que alimentam o vício de suas existências “descartáveis”.
É um fogo trágico que reduz pessoas a cinzas de um cachimbo da miséria banalizada e cotidiana.
Texto do artista.